Olá amigos e seguidores da GPL Brasil!
Como sabemos, nossa última etapa foi realizada no aeródromo de Albi, como fora tantas vezes citado nos textos anteriores. Pois bem, o próximo desafio das máquinas e pilotos da liga difere muito das curvas suaves e sem alterações de relevo de Albi. Se fossem seres humanos, diria que entre o último circuito e Charade - palco da próxima etapa - a única semelhança seria o branco dos olhos.
Como não são de longe dotados de vida, resumimos as coincidências, que são raras, aos aspectos geográficos. Nossa estadia se prolonga por terras francesas, dessa vez aos arredores montanhosos próximos a cidade de Clermont-Ferrand e o departamento de Puy-de-Dome. Montanhas que fazem o charme do circuito trinomial, conhecido por uns como Circuit de Charade, por outros como Circuit Louis Rosier, e por terceiros como Circuit Clermont-Ferrand.
Independente da nomenclatura utilizada, a história de Charade se resume aos fins da década de 50. Elaborado nas proximidades de um extinto vulcão e sob os domínios das montanhas de Auvergne, o traçado original da pista consiste na junção de fragmentos de estradas da região, totalizando 8055 metros, dotados principalmente de curvas de baixa velocidade, alterações súbitas de relevo e pouquíssimas áreas de escape.
Tais características atribuíram à ela o honroso apelido de mini-Nürburgring, dadas as semelhanças com o famoso reduto automobilístico alemão. Porém, Charade acabou se estabelecendo como uma versão ainda mais sinuosa e rápida que sua co-irmã.
O circuito passou a receber suas primeiras atividades em 1959, quando anfitriou eventos de motociclismo nacionais, que perduraram ininterruptamente até 1967, para depois voltar a ter aparições esporádicas na década de 70. Se os desafios de Charade já eram notórios mesmo com os veículos de duas rodas, a adrenalina subiu ainda mais quando os famosos monopostos passaram a desafiar os perigos das montanhas de Clermont-Ferrand.
Primeiro foi a vez dos Fórmula 2. Já no fim dos anos 50, estes carros passaram a competir no circuito. Em 1964, foi realizado mais uma edição da categoria no traçado, o VI Trophée d'Auvergne, que reuniu pilotos do calibre de Denny Hulme, Jackie Stewart e Jochen Rindt. Estes, detentores do pódio na ocasião, deram sinais do que ainda estaria por vir nos próximos anos.
Dito e feito! Logo no seguinte, as feras voltaram à região, desta vez trazendo consigo as máquinas da Fórmula 1, prontas para correrem pela primeira vez no circuito. A corrida foi um tremendo sucesso, ainda mais para o lendário Jim Clark, que só não fez chover naquela oportunidade, já que dominou as ações do início ao fim, fazendo pole, volta mais rápida e vitória com sua Lotus-Climax, relegando a BRM de Jackie Stewart ao trono de "primeiro dos mortais".
Em 1966, nada de F1. Mas um fato curioso marcou as dependências do circuito. O diretor John Frankenheimer realizou filmagens do conhecido filme "Grand Prix" em frente a aproximadamente 3 mil fãs locais que posaram como espectadores para realização das imagens.
A verdade é que, por mais interessante e desafiador que fosse o Circuit de Charade, ele nunca foi figurinha carimbada na maior categoria do automobilismo. Caracterísitico da época, o Circuito Louis Rosier fazia um revezamento com outros traçados franceses, como Rouen e Le Mans, por exemplo. Por isso mesmo, apenas em quatro oportunidades Charade sediou uma etapa de Fórmula 1, sendo a derradeira delas em 1972, quando Jackie Stewart triunfou. Nas edições intermediárias, em 1969 e 1970, coube também a Stewart e Rindt, respectivamente, ditarem o tom das ações.
Com o avanço dos carros da F1, o traçado foi se tornando inapropriado e estreito demais para os padrões da categoria. Aliás, a sinuosidade do trajeto era tanta que alguns pilotos, como Jochen Rindt, sofriam com a cinetose, causadora de náuseas, perda de equilíbrio e enjoos. Para isso, alguns pilots, como o próprio Rindt, deixaram de usar os capacetes fechados para utilizar os antigos abertos, de forma a facilitar a respiração e ventilação.
Desde então, Charade passou a sediar competições de menor porte, como turismo, Fórmula 3 e eventos de rally. Na década de 80, o traçado original passou a ser criticado pela impossibilidade da instalação de áreas de escape, tanto que em 1980 três fiscais de pista morreram em decorrência de um acidente. Os protestos dos pilotos fizeram a organização do circuito tomar novas medidas e desativar o traçado original, que recebeu sua última corrida no dia 18 de setembro de 1988.
A F1 se despediu de Charade em 1972, quando Jackie Stewart ganhou sua segunda prova no circuito em um total de quatro edições disputadas
Depois disso, um novo traçado, que abrange parte do original, no seu setor inicial, foi construído para continuar recebendo eventos de velocidade. Reduzida, sua extensão passou para modestos 3975 metros, que continua até o dias de hoje anfitriando corridas de F3 e turismo, bem como demais competições locais. Junto ao autódromo remoldelado, existe uma pista de terra de 1300 metros de comprimento, usada para eventos de rallycross.
Uma curiosidade envolvendo Charade remete à fabricante de carros Daihatsu, que lançou em 1977 um modelo homônimo ao circuito, em homenagem ao traçado. O Daihatsu Charade foi um dos sucessos de vendagem da marca por muitos anos e teve sua produção descontinuada em 2000.
Atualmente reduzido em sua extensão, Charade tem como característica a paisagem tomada pela neve nas épocas frias, construindo um belo cenário
Mesmo mutilado como muitas pistas mundo afora, a memória e a beleza única das montanhas de Auvergne estarão sempre presentes nas páginas do automobilismo. Beleza, que um dia fora exaltada nobremente por Stirling, ao opinar que "não conheço nenhum circuito mais belo que Charade". Se sir Moss falou isso, então tá falado!
3 comentários:
Ótimo post Raoni!
Comunidade no facebook para salvar o circuito de Charade http://www.facebook.com/?ref=logo#!/group.php?gid=49926107506&ref=ts
Lembro que foi o primeiro circuito com que andei no mod69 do GPL, fiquei bobo com a beleza do cenário e pelo desafio da pista.
Aliás, prefiro chamá-la de Clermont-Ferrand, creio ser mais elegante do que Charade.
Bela matéria Raoni!
Esse circuito é muito desafiador, e com uma paisagem muito bonita.
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