terça-feira, 27 de abril de 2010

Um pouco de história: Circuit d'Albi

Saudações aos amigos e fãs da GPL Brasil!

Como podemos acompanhar pela movimentação em nosso fórum, a 7ª temporada da liga vai chegando aos seus derradeiros e decisivos momentos. Os carros de 1965 estão há poucas semanas de saberem quem será o campeão do certame. E, nesse embate pela taça, envolvendo principalmente os concorrentes John White, Fernando Tumushi e Alex Ortiz, o próximo circuito do calendário pode ser um divisor de águas na ferrenha disputa.

Neste próximo domingo, 2 de maio, máquinas e carros desembarcarão na França para a disputa da 10ª etapa de um total de 14 previstas. E o palco do ronco dos motores já é velho conhecido da maioria dos participantes. O circuito de Albi aos poucos tornou-se presença cativa no calendário da GPL Brasil e também caiu no gosto dos pilotos.

Foto aérea do Circuito de Albi, antes de sua última reforma, em 2009

Mas o que faz de Albi um lugar tão aclamado e bem cotado? Os ingredientes podem ser muitos, mas podemos destacar alguns que são cruciais neste sucesso de aprovação, que sempre proporciona bons eventos. É o que você saberá nas próximas linhas, conhecendo um pouco de sua história, suas características e até mesmo algumas curiosidades.

Mas como diria o velho pleonasmo, vamos começar do começo! E o começo nos remete a um longo passado, mais precisamente numa viagem ao tempo para 80 anos atrás. Pois bem, neste ano de 2010 uma série de eventos e reformas no circuito comemoram e preservam uma memória longeva do tradicional local, situado próximo à cidade de Le Séquestre, no sudoeste francês. Mas engana-se quem pensa que sua história se resume apenas aos entornos do aeródromo de Le Séquestre

Os fins de 1927 reservaram conversas entre grupos de motociclistas pelas redondezas de Albi. Entre algumas das pautas, surgiu a ideia de expressarem todo seu fanatismo e paixão pelas corridas. Foi o embrião de uma associação criada em 1928 e que começou a tomar forma dois anos depois, sob o nome de Moto Camping Club Albigeois, ou simplesmente MCCA. Vale lembrar que o termo "albigeois" nos remete ao português "albigenses", como são chamados os naturais daquela cidade.

Com uma estrutura mais organizada e focada, a associação trouxe aos albigenses o primeiro evento automobilístico por aquelas bandas: a escalada (ou hill climb, como chamam os fas do segmento) de Mascrabière, em 1930. Assim como o primeiro evento, o primeiro Grande Prêmio oficial não tardou a ser realizado.

 Traçado da primeira corrida, realizada nas estradas da região em 1933

Em 1933, foi debutado o primeiro evento em caráter de Grande Prêmio. O traçado, embora presente pelas redondezas daquela região, nada tem a ver com o aeródromo atual. Uma série de estradas montavam o percurso de mais de 9 km, passando pelas proximidades de Albi, Saint-Juery e Montplaisir. Oficialmente, o traçado carregava a nomenclatura de Circuit des Planques. Coube ao piloto local Pierre Veyron vencer o primeiro GP da história de Albi (e também dominar as ações em 1934 e 1935).

Logo após o primeiro ano, uma modificação no traçado. O hairpin próximo à Albi fora antecipado, para dar lugar às tribunas recém-instaladas onde previamente havia pista. Com isso, a extensão do traçado diminui alguns metros, sendo quase de 9 km.

O ano de 1946 foi um marco na história da caompetição naquele local. Pela primeira vez, vários grandes pilotos de nível mundial passaram a competir no GP francês, entre eles o lendário italiano Tazio Nuvolari que, a bordo de sua Maserati, venceu com autoridade o evento, que contou com a participação do também aclamado Luigi Villoresi, dono do melhor giro da prova naquela edição.

Largada da edição de 1947 do GP, que já contava à essa altura com grandes nomes do automobilismo mundial

O circuito continuou sediando eventos - embora sempre em caráter não-oficial para campeonatos - e recebendo grandes nomes das pistas daquela época, como Juan Manuel Fangio, Maurice Trintignant, Giuseppe Farina e inclusive o brasileiro Chico Landi, que conduziu uma Ferrari na edição de 1952 a um brilhante segundo lugar, atrás apenas de seu colega de equipe italiana, Louis Rosier.

O ano de 1954 reservou uma profunda mudança no trajeto do circuito. Renomeado então para Circuit Raymond Sommer, o percurso foi reduzido para econômicos 2991 metros, ainda mantendo algumas seções do velho traçado, como pode ser visto na ilustração à esquerda.

Mas as mudanças não duraram por muito tempo. O desastroso e trágico acidente em Le Mans em 1955 foi estopim para que as atividades em Albi fossem interrompidas, visto o trauma vivenciado no mesmo país, que culminou com dezenas de mortos.

O hiato de competições na região albigense durou até 1959, quando os motores voltaram a roncar no aeródromo próximo ao antigo local de disputas. A configuração do traçado entornava a principal pista de pouso e decolagem de aviões e é configuração - intitulada Circuit du Séquestre - bastante conhecida pelos fãs de corridas, com extensão de 3636 metros e duas longas retas, mesclando com curvas travadas e outras de raio longo.

A nova configuração chamou a atenção dos pilotos e em 1964 começaram a serem disputadas corridas de Fórmula 2 pelo ágil e desafiador traçado, cabendo ao mítico Jack Brabham ser o primeiro triunfante à bordo dos carros semelhantes aos F1. Embora rumores apontassem para a realização de uma corrida de Fórmula 1 no circuito para o ano de 1970, o Circuit Du Séquestre jamais recebeu tais máquinas, se resumindo apenas à eventos de F2, que perduraram até 1973, com o italiano Vittorio Brambilla colocando seu nome na história como o último vencedor do evento, guiando um March 732 - BMW. Evento, aliás, que contou com feras como Emerson Fittipaldi, Ronnie Peterson, José Carlos Pace, Jochen Mass e John Watson.

Jochen Rindt e sua excêntrica Brabham participaram do evento de F2 realizado no circuito, no ano de 1968

Desde então, o Circuito de Albi passou a receber categorias de menor expressão, como F3, caompetições de turismo, fórmulas juniores, motociclismo e eventos de encontros de automóveis. Em 1985, a mesma associação que proporcionou as primeiras emoções à população local se tornou no Comitê de Gestão do Circuito de Albi (CGCA) e passou a cuidar da manutenção do local.

Visando aumentar a segurança do traçado, em 1988 o circuito recebeu uma chicane dupla na sua reta principal, fato lamentado por alguns fãs. A partir desta modificação, outras reformas vieram, como a criação de duas novas chicanes, sendo a última delas em 2009, ano em que o circuito passou pela sua última modificação.

Para as comemorações dos 80 anos da criação da associação, estão programados uma série de eventos no aeródromo, como um encontro de Peugeots antigos - marcado para junho -, o 68º Grande Prêmio de Albi (com competição de carros de turismo) e a final do Campeonato Francês de Superbike, ambos os dois últimos marcados para o mês de setembro.

Atualmente, Albi sedia uma série de eventos de categorias menores, como turismo, monopostos e motociclismo

Diante de tanta história de várias décadas, é gratificante observar que o Cuicuito de Albi está mais vivo do que nunca, sendo reformado e, principalmente, preservando a memória de tantos bons e saudosos eventos que um dia embalaram e continuam o fanatismo dos albigenses pelos carros e motos. Os francófonos de plantão podem visitar o site oficial do circuito e conhecer demais histórias e informações sobre o local.

Essa é a primeira de uma série de postagens sobre Albi que iremos publicar no decorrer desta semana, que antecede a realização da corrida. Espero que sirvam para aquecer as expectativas de todos e, claro, sempre acrescentar conhecimento. Até a próxima!